Política de bonificação para professores e alunos divide opiniões no RS



Anunciada pelo governo do Estado na última quarta-feira (13), a nova política de bonificação para professores, servidores e alunos da rede pública promete mudar a forma de premiar resultados na educação gaúcha. A proposta, que deve entrar em vigor ainda em 2025, prevê o pagamento de valores em dinheiro a quem atingir ou demonstrar evolução em metas estabelecidas.

Como funcionará
Servidores: poderão receber o equivalente a um 14º salário, vinculado ao cumprimento das metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Professores ainda terão uma bonificação proporcional à frequência dos alunos.
Estudantes: a premiação varia de R$ 1 mil a R$ 3 mil, conforme desempenho e participação nas provas do Saers (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do RS) e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). O benefício será destinado a alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio.
Segundo a Secretaria da Educação (Seduc), o foco é elevar os resultados do Saeb, que compõem o Ideb.
— O objetivo não é premiar apenas quem alcançar 100% da meta, mas também valorizar a evolução. Se a escola avançar, mesmo sem atingir a meta final, será recompensada. Queremos estimular a melhoria contínua, porque cada passo importa para fortalecer a educação gaúcha — afirmou o governador Eduardo Leite no lançamento.

Críticas e dúvidas
Especialistas, porém, alertam para riscos e limitações do modelo. O professor da UFRGS Mateus Saraiva destaca que não há consenso científico sobre a eficácia das bonificações. Enquanto estudos econométricos apontam melhora no Ideb, pesquisas educacionais relatam efeitos negativos, como:
estreitamento curricular (foco apenas no que cai na prova),
redução da autonomia docente,
maior desigualdade intraescolar, favorecendo apenas alunos com melhor desempenho,
e até tentativas de excluir estudantes de avaliações.
— Educação não pode ser tratada como “em uma escola funciona, na outra não”. Precisamos garantir qualidade em todas — afirma Saraiva.
O ex-presidente do Inep, José Francisco Soares, reforça que o desempenho escolar é fortemente influenciado por fatores externos — como condições socioeconômicas e apoio familiar —, sobre os quais a escola tem pouco controle. Para ele, escolas com piores resultados deveriam receber apoio pedagógico e intervenção, não apenas serem medidas pela régua das provas.

Governo defende
A secretária da Educação, Raquel Teixeira, sustenta que o modelo é baseado em dados e experiências de sucesso:
— Avaliações diagnósticas com monitoramento estruturado têm impacto positivo na aprendizagem. A ideia não é estimular competição, mas evolução. As metas foram projetadas a partir do histórico de cada escola — afirma.

Debate sobre indicadores
Pesquisadores também questionam o uso do Ideb como principal indicador de qualidade, por se restringir a português e matemática. Para eles, é necessário ampliar e qualificar os indicadores, incluindo aspectos sociais e de permanência escolar.
Para a pesquisadora da UFRGS Ângela Chagas, a política reforça uma lógica meritocrática e competitiva:
— Educação de qualidade não se faz com treinamento para provas e prêmios para os melhores. É preciso garantir condições adequadas de ensino, infraestrutura, valorização da carreira e investimento contínuo — defende.

Alternativas
Críticos sugerem que políticas de incentivo deveriam considerar equidade, premiando escolas ou municípios que reduzam desigualdades de desempenho entre grupos sociais, além de valorizar as que mais evoluíram desde a última avaliação.
Apesar da controvérsia, o governo mantém a aposta. A expectativa é que o modelo incentive diretores, professores e estudantes a buscar avanços coletivos e contribua para elevar os índices do Ideb 2026.

Texto: Olhar Daqui RS com informações Seduc
Foto: Divulgação

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