
“Tormento nenhum na vida é mais cruel que ver minha mãe chorando e não poder abraçá-la.”
É
isso, caros leitores, que eu imagino que um suicida sente após morrer. A dor
que os leva a cometer um ato extremo é inimaginável por quem nunca tentou tirar
a própria vida (essa frase veio-me por intuição
quando tentei me posicionar no lugar de quem se mata). Sentir-se um rejeito
humano, fugir, correr desesperadamente para o desconhecido numa tentativa de
fazer um curativo na alma.
Penso
assim porque raciocino diante de minhas crenças que me induzem a ter certeza de
que há vida após a morte. Vejo famílias desfalcadas, pais e mães procurando
respostas, filhos que não conseguem erguer a cabeça diante das pessoas, companheiros
que jamais viverão um outro amor sem medo, dores infinitas que jamais passarão.
Culpas, pobres viventes, perguntando-se incansavelmente onde erraram.
O
que pensa uma mãe ou um pai? Eu não fui capaz de ver que meu filho estava tão
doente. Eu não cheguei a tempo. Eu não consegui salvá-lo. A culpa é minha. O
que pensa um filho que mal pode entender qual o seu lugar diante de tudo isso e
é obrigado a carregar a marca que seus pais deixaram ao se matar. O que pensa
alguém que ama e convive com essa criatura, que acaba sendo obrigada a abraçar
tudo o que não foi resolvido e olha pros próprios filhos sem saber o que fazer.
O amor não resgata nada, vamos parar de romantizar, somente a tristeza
acompanha essas atitudes, e sempre, sempre que for lembrado isso vai doer, e as
perguntas ressurgirão, o consolo é que precisarão viver com isso, então é
melhor encontrar uma maneira de morrer mais lentamente com esse sentimento,
(porque quem se mata, mata-os com lentidão), pois talvez a resposta só virá no
dia do reencontro, do outro lado, onde nada mais aqui puder ser revivido.
A
culpa não é de vocês meus queridos papais e mamães, filhos, companheiras,
familiares e amigos. Não existem culpados. Existem índoles, e sobre essas não
temos controle. Cada ser humano nasce com sua, possui sim, genética,
hereditariedade, mas vem com a individualidade na bagagem, como espírito livre,
ser um ser único, independente dos antecessores e posteriores, dos que os
criaram e que estão sendo criados, dos que existem em seu redor. Não se culpem.
Vocês deram tudo que tinham, muito ou pouco, era o que tinham e cabe aos que
vem depois lidar com isso. Não é culpa de vocês não imaginarem o que se passa
na mente de seus filhos, pais, irmãos ou amigos, eles são diferentes de vocês.
Te
digo meu querido suicida: que a coragem que tendes de tirar tua própria vida
seja substituída pela coragem de enfrentar teus problemas, pois não existe nada
nesse mundo que não tenha solução e o máximo que pode ocorrer será sustentar o
resultado de tuas ações. Segura na mão de alguém, mãe, pai, amigo,
desconhecido, segura na mão do vento se for preciso, até ele te levará a outras
soluções. Mas não te mate, não mate os teus, não mate os dos outros. Tu não
estás só, por mais que isso puncione tua mente. Pense antes, raciocine,
observe, veja que essa atitude não vai te tirar da dor, ao contrário, te trará
mais tormento e comprometimento, pois invadirá a vida dos que te são caros.
Antes de te matar, lembra que estarás matando muitas vidas, elas irão contigo
por onde for, é um genocídio. Peça a alguém que te abrace, chore, grite, pareça
ridículo, enfrente teus inimigos, mas não leve as pessoas que mais te amam a
carregarem tanta tristeza diante do teu ato.
Esse
é meu recado hoje, ainda temos muito a conversar.
Continuem acompanhando Olhar
Daqui RS!
Por Carla Augusta Thomaz
Psicanalista
Tags
Opinião