Os primeiros dez dias que os municípios da região conviveram com as limitações decorrentes da interdição do Presídio Estadual de Vacaria revelaram consequências muito graves no ambiente da segurança. Justamente agora que as estatísticas estão mostrando números favoráveis indicando avanços no combate e prevenção à criminalidade, os agentes de segurança são levados a postergar ações. A cada necessidade de levar um apenado até o Presídio do Apanhador, policiais militares são retirados das ruas, policiais civis são afastados de investigações e operações especiais são adiadas. “Estamos passando por um momento bem difícil, atípico, cuja solução não depende de nós,” avaliou o delegado Regional de Polícia, Carlos Alberto Defaveri.
Nessa mesma linha, posiciona-se o coronel Luis Fernando Becker, comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO) Nordeste: “Quanto mais o efetivo prender, mais teremos dificuldades, pois para o deslocamento, suspendemos dois, três ou mais policiais, por no mínimo um turno de seis horas. É efetivo que não faz policiamento para atender a cidade de Vacaria e região.”
O cenário que já se mostra preocupante, pode agravar. Mesmo com todo o cuidado que as autoridades, lideranças e, até mesmo a imprensa, vêm tendo para não gerar alarmes na comunidade, já se vê voltar a sensação de insegurança. “As prisões em flagrante continuam sendo feitas,” deixam claro os representantes dos órgãos de Segurança, mas cada preso que é levado à Polícia Judiciária, onde aguardam audiência de custódia, que geralmente não ocorre no mesmo dia, equipes de policiais civis ou militares têm que se revezar para garantir segurança e alimentação até a condução para presídios distantes a mais de 100 quilômetros de Vacaria. Presos provisórios já estão sendo colocados em liberdade. “É evidente que isso gera prejuízos à segurança pública regional, não aos policiais em si, mas à sociedade”, falam os agentes.
Desde a interdição do Presídio de Vacaria, no dia 12 de fevereiro, as lideranças da região vêm tratando o assunto como prioridade, sabendo que a solução definitiva não depende unicamente das forças locais. A primeira ação foi o encontro do Gabinete de Gestão Integrada (GGI), que reúne todos os agentes da Segurança de Vacaria, para encontrar meios de amenizar os efeitos negativos da interdição da casa prisional. Na quarta, 19, na reunião do programa RS Seguro do Governo do Estado, comandada pelo governador em exercício Gabriel Souza (MDB), com a presença de toda a cúpula da segurança pública, o delegado Regional Defaveri e o comandante do CRPO Nordeste, coronel Becker, foram chamados para falar sobre os excelentes resultados apresentados nos últimos meses.
Mesmo em um momento em que os indicadores de segurança da região determinam uma fala positiva, tanto o delegado quanto o comandante apresentaram a preocupação e receberam retornos imediatos: “O secretário de Segurança Pública, Sandro Caron, foi enfático em dizer que não passaríamos por aquela situação de tempos atrás, com presos em viaturas e delegacias, que isso gerará um problema enorme para as polícias, que haveria de encontrar uma alternativa. Ele também lembrou que a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) não está mais vinculada à SSP, mas possui secretaria própria, e que seria encontrada uma solução,” revelou ao Correio Vacariense, o delegado Defaveri.
A interdição do Presídio de Vacaria motivou várias manifestações e estimulou movimentos na direção de encontrar soluções mais efetivas para o problema prisional da região. O presidente da Associação dos Municípios dos Campos de Cima da Serra (Amucser), Frederico Arcari Becker (PP), prefeito de Bom Jesus (cidade responsável por 1/3 da ocupação da casa prisional) se declara preocupado: “A situação do presídio impacta em toda a nossa região e vamos fortalecer a busca pela solução definitiva, que é a construção de uma nova penitenciária.”
O prefeito de Vacaria, André Rokoski (PL), além de manifestar-se preocupado com a situação, já anunciou: “Estamos organizando agenda em Porto Alegre para buscar parcerias entre município, estado e o setor privado, a construção urgente de um novo presídio. Esse é o nosso objetivo.”
A preocupação chegou também ao poder Legislativo de Vacaria, que por solicitação do vereador Luciano Ramos, já antecipou a reativação da Frente Parlamentar de Segurança: “A inclusão do deputado Guilherme Pasin trará muito conhecimento, principalmente no tocante à mudança do nosso presídio estadual, pois o mesmo tem a expertise de ter feito uma parceria público privada (PPP) quando era prefeito em Bento Gonçalves, e isso fez com aquela cidade conseguisse fazer um novo presídio. E essa será uma das metas da frente parlamentar,” disse Ramos ao CV.