Por Direitos, Justiça e Equidade. Foi sob esse lema que Passo Fundo sediou, no último sábado, a 1ª Conferência Regional de Promoção da Igualdade Étnico-Racial — um encontro que foi muito além da retórica e se consolidou como um marco simbólico e político na luta contra o racismo estrutural no norte do Rio Grande do Sul.
Realizado pela Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, o evento reuniu lideranças de seis municípios da região no centro da cidade, com o propósito de fortalecer a participação social, valorizar identidades étnico-raciais historicamente marginalizadas e encaminhar propostas concretas para políticas públicas de enfrentamento ao racismo.
— Ainda convivemos com manifestações de preconceito em Passo Fundo, mas o fato de realizarmos esta conferência é, por si só, um avanço. É a prova de que estamos, enfim, abrindo espaços de escuta e construção coletiva — afirmou a coordenadora Mara Cavalheiro, que conduziu a programação. Para ela, o letramento racial nas escolas, tanto públicas quanto privadas, é um passo fundamental para romper o ciclo de desigualdades.
Ecos das vozes ancestrais
O evento reuniu vozes potentes: Sanny Figueiredo, diretora estadual de Igualdade Étnico-Racial; a professora e pesquisadora Valquíria Bispo; a ativista Chica Bueno, presidente da Associação de Mulheres Negras (Acemon); Ipácio Carolino, representante dos povos de terreiro; e o professor Frederico Bonafé, da Universidade de Passo Fundo.
Mais que palestras, foram momentos de partilha de saberes ancestrais, experiências vividas e perspectivas para uma sociedade mais justa — onde a equidade racial não seja uma promessa, mas uma realidade.
— Estamos falando de vidas, de territórios e de histórias apagadas por séculos. Precisamos reconstruir o pacto civilizatório brasileiro com base na justiça racial — defendeu Sanny Figueiredo em sua fala.
A diretora anunciou que o governo estadual irá lançar editais com recursos do Funrigs (Fundo de Reaparelhamento dos Equipamentos de Segurança) voltados especificamente à pauta étnico-racial. No entanto, para acessar os recursos, os municípios precisarão cumprir uma série de requisitos: manter coordenadorias e conselhos ativos, instituir fundos próprios e aderir ao Sinapir — o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
— Esse levantamento, iniciado pelas conferências municipais e regionais, permitirá mapear quais cidades já estão estruturadas e quais ainda precisam se organizar até 2026 — explicou Figueiredo.
Da escuta à ação
Além dos debates, o encontro teve caráter deliberativo. No período da tarde, foram eleitos os delegados e delegadas que representarão a região na etapa estadual da conferência, agendada para os dias 28 e 29 de agosto, em Porto Alegre.
Os relatórios dos grupos temáticos, assim como as propostas aprovadas, serão sistematizados e enviados à 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, prevista para acontecer em setembro, em Brasília.
A expectativa é que a pauta gaúcha, construída com ampla escuta e participação popular, contribua de forma decisiva para a formulação de políticas públicas robustas — que não apenas reparem injustiças históricas, mas garantam, no presente, a dignidade e o direito de existir em plenitude para todos os povos.
Fonte: Uirapuru