Vomite as palavras que o perdão acontece

 


 

"Assistimos em silêncio somente
porque somos bons e porque nos
fizeram acreditar que Deus,
pai soberano, é o responsável em
falar pelos injustiçados e que nós
devemos baixar a cabeça".


Queridos leitores, há muito eu venho pensando nas crenças que temos, as que nos limitam, que nos impedem de dizer nossos verdadeiros sentimentos “diretamente” às pessoas que precisam ouvir. Na maioria das vezes são crenças limitantes, arraigadas em nosso inconsciente por infindáveis tempos tirânicos e perturbadores, e que ainda nos impulsionam a continuar sendo feridos, a assistir injustiças, a ver pessoas tripudiarem em cima dos nossos sentimentos, ferindo quem mais amamos, mudando rumos e destruindo destinos. Em outras, são nossas ambições por reconhecimento, status, dinheiro e, em algumas ocasiões simples descaso mesmo, conosco, cansados que estamos de lutar e pedir pra sermos ouvidos permitimos sermos pisoteados. Assistimos em silêncio somente porque somos bons e porque nos fizeram acreditar que Deus, pai soberano, é o responsável em falar pelos injustiçados e que nós devemos baixar a cabeça (como injustiçados) e perdoar, num gesto de humildade, como um postulado para a vida eterna.
Pois então...
Tem dias que Deus, o todo poderoso sim, ou essa gama imensa de divindades pagãs, totens e ícones de civilizações, se fazem tão presentes que a nossa imagem e semelhança com eles acaba tomando um limite sutil, imperceptível, e entendemos que é através da nossa voz, da nossa raiva, da nossa impetuosidade e da nossa atitude que essas divindades falam e colocam cada ser no seu devido território, ou seja, aquele mundinho que cada uma cria em torno de seu umbigo ou majestades dentro de suas panças. Sabe aquela história de “dar a outra face” que nos fizeram acreditar que significa apanhar dos dois lados? Pois é, tenho outra compreensão dela, penso que ao darmos a outra face significa mostrar que temos nosso orgulho, nossa dignidade, que não apanhamos calados, somos dotados de inteligência e podemos argumentar sim a nosso favor e revidar, não temos que sofrer humilhações por medo de não ir pro céu.   Quando descobrimos que somos portadores do nosso ser fica mais fácil a defesa, quando vomitamos nossa raiva diretamente no esgoto a que essa se destina ou choramos nossa tristeza, ou gritamos nossas dores, o perdão fica mais próximo, porque na verdade acabamos de nos perdoar, de deixar a nossa emoção fluir conscientemente. Pronto, descobrimos que na realidade para perdoar precisamos entender porque aquilo nos magoou tanto. Porque deixamos acontecer, porque nos privamos de nossa liberdade, da nossa dignidade, porque nos deixamos humilhar tanto, e entendemos que a dor é nossa e nós quem precisamos nos curar primeiro. Nos culpamos inconscientemente por permitirmos isso.
Depois fica mais fácil, porque já não existe mais sentido em sentir rancor pelos que foram apenas instrumentos para nosso autoconhecimento. E vem o tal “perdão”. Daí a alma fica lavada, a consciência fica tranquila, os sorrisos mais felizes, o sono mais sereno e a vida fica plena. Passamos a entender o significado de Deus de quem somos imagem e semelhança, donos de si.

Continuemos a olhardaquirs.com.br e dar voz aos nossos pensamentos. 

Por Carla Augusta Thomaz
Psicanalista

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