Lendo sobre questões de evolução das sociedades, chamou-me a atenção a simbologia do casamento, e este assunto, por demais comentado, possui um vasto campo na psicanálise.
Casar nem sempre foi considerado algo bom e
muitas vezes era visto como sacrifício. No início da oficialização matrimonial
mulheres e homens serviam como “moedas de troca” independente da vontade e na
maioria das vezes forçosamente, em um ambiente hostil e violento. Através da união entre uma mulher e um homem de
tribos, nações ou reinados diferentes é que eram concretizados pactos
políticos, sociais, estratégicos e de dominação dos povos na antiguidade e,
pasmem, isso acontece até hoje em alguns lugares do mundo. Ao oferecer um
casamento, um monarca, um aristocrata, líder tribal ou patriarca, estava
oferecendo uma aliança com benefícios bilaterais (ou unilaterais dependendo da
ameaça a que estava submetido), onde os mais intimidados proporcionariam
favores e serviços aos mais poderosos e, como câmbio poderiam receber status,
proteção, territórios,
propriedades, escalada social, primazia,
perdão e demais acréscimos advindos dessas alianças. Do lado oposto, contaria
com um novo aliado sobre seu domínio, evitando que este se associasse aos inimigos
conferindo-lhe maiores chances de comando e poder.
Historicamente os fatos demonstraram o domínio
da sociedade patriarcal sobre os elementos que a compunham, onde as mulheres,
sempre consideradas inferiores, eram submetidas ao encontro da infelicidade conforme
as demandas políticas, econômicas e sociais, pois, haviam de se dispor
forçosamente a se casarem com quem nunca tinham visto. Eram educadas e
estruturadas para servirem ao propósito com toda a pompa de uma serviçal, sendo
que, nos bastidores da submissão, a traição de déspotas, tiranos e homens com sérios
desvios de caráter, as submetiam à sorte das mais terríveis torturas físicas e
emocionais, quando não julgadas injustamente, enforcadas ou assassinadas sem o
mínimo de chance de defesa.
Isso tudo vem incrustrado no inconsciente
feminino há séculos. Hoje vivemos em um país que pode ser considerado democrático nessa
questão em vista de outros, onde as
mulheres possuem igualdade perante o gênero masculino, podendo fazer escolhas e
se sobressair em áreas que antigamente eram exclusivas dos machos da tribo,
embora ainda exista comprovadamente um machismo oculto por detrás das cortinas
desse teatro todo.
Nas relações amorosas atuais entre homens e
mulheres algumas situações permanecem tão obscuras quanto antigamente, mesmo
porque a sociedade não possui mais papéis distintos, e isso gera conflitos
entre casais, pois o acordo nupcial não preve situações de realização pessoal,
cuidados com a hereditariedade, autoconhecimento, superação de traumas,
individualidade, conhecimento sistêmico, qualidade de vida e amor próprio.
Por isso, caros leitores, casamento virou caso
para psicanálise, terapia de casais, ações judiciais, criminais e de palpites
mal fundamentados da vizinhança.
A união entre pessoas é algo muito mais complexo quando se trata da soma de dois inconscientes, dois egos e dois superegos que convivem e compartilham um ambiente semelhante, esquecendo-se completamente que as suas individualidades em algum momento irão falar mais alto. Não nos preparam para isso e, sendo assim, a sociedade opta por romantizar, adaptar novas tendências em relacionamentos, inclusive relatadas em livros como: Casais que Enriquecem Juntos, As Regras de Ouro dos Casais Saudáveis, Novas Formas de Amar e infinitos outros manuais de bons casamentos. Na prática sabemos a verdade: “o amor é lindo”, mas a paz de espírito, desculpem-me os mascarados, é fundamental.
Por Carla Augusta Thomaz