O arroz, um dos símbolos da mesa do brasileiro, vive uma das maiores transformações de sua história recente. O grão, antes indispensável no prato nacional, está perdendo espaço para o fast-food e os ultraprocessados, e essa mudança de hábito está provocando efeitos em cadeia — do campo ao supermercado, passando pelo bolso do consumidor e pela inflação.
O consumo de arroz no país caiu mais de 10 quilos por pessoa ao ano desde os anos 1980. Segundo a Embrapa, cada brasileiro consome hoje 29,2 quilos de arroz por ano, contra mais de 40 quilos registrados há quatro décadas.
O consumo de arroz no país caiu mais de 10 quilos por pessoa ao ano desde os anos 1980. Segundo a Embrapa, cada brasileiro consome hoje 29,2 quilos de arroz por ano, contra mais de 40 quilos registrados há quatro décadas.
Mudança de hábitos e o impacto na saúde
A nutricionista Caroll Martins explica que o ritmo acelerado da vida urbana, aliado à popularização do delivery e dos alimentos ultraprocessados, mudou o comportamento alimentar da população: “As pessoas fazem mais refeições fora de casa ou optam pelo delivery, e o arroz quase nunca está entre essas opções. O preparo exige tempo, e isso pesa na rotina moderna”, afirma.
Ela alerta que essa substituição tem um custo alto para a saúde. A preferência por comidas rápidas e calóricas está associada ao aumento da obesidade infantil. Dados do Unicef mostram que, entre 2000 e 2022, a taxa de obesidade entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos triplicou, passando de 5% para 15%.
Além disso, modismos alimentares que demonizam o carboidrato contribuíram para a queda no consumo do grão. “O arroz e o feijão formam uma combinação perfeita de nutrientes e são fundamentais, especialmente para famílias com menor poder aquisitivo. O carboidrato não é o vilão — é energia, saciedade e equilíbrio”, reforça a nutricionista.
Ela alerta que essa substituição tem um custo alto para a saúde. A preferência por comidas rápidas e calóricas está associada ao aumento da obesidade infantil. Dados do Unicef mostram que, entre 2000 e 2022, a taxa de obesidade entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos triplicou, passando de 5% para 15%.
Além disso, modismos alimentares que demonizam o carboidrato contribuíram para a queda no consumo do grão. “O arroz e o feijão formam uma combinação perfeita de nutrientes e são fundamentais, especialmente para famílias com menor poder aquisitivo. O carboidrato não é o vilão — é energia, saciedade e equilíbrio”, reforça a nutricionista.
Alta no custo de vida e queda no preço do arroz
Paradoxalmente, enquanto a alimentação em casa ficou 55% mais cara nos últimos cinco anos — acima da inflação geral de 33%, segundo o IBGE —, o arroz teve queda expressiva de 25,9% no preço em Porto Alegre no primeiro semestre de 2025.
A contradição tem explicação: produção em excesso e demanda em queda. “É um problema de comportamento, não apenas de preço. O fast-food também não é barato, mas virou uma escolha prática e emocional”, observa Caroll.
A contradição tem explicação: produção em excesso e demanda em queda. “É um problema de comportamento, não apenas de preço. O fast-food também não é barato, mas virou uma escolha prática e emocional”, observa Caroll.
Crise no campo: excesso de produção e risco à renda rural
Enquanto o arroz perde espaço no prato, os produtores enfrentam um cenário preocupante. O Brasil colheu safras fartas, mas sem mercado interno suficiente para absorver o volume. Resultado: preços em queda e prejuízo para o agricultor.
O Rio Grande do Sul, responsável por mais de 70% da produção nacional, é o estado mais impactado. O excesso de oferta derrubou o valor pago ao produtor para níveis abaixo do custo de produção, gerando alerta entre entidades do setor.
A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do RS) recomenda redução de área plantada para a próxima safra e alerta para os riscos sociais e econômicos.
“O arroz é base de renda para milhares de famílias e tem uma das maiores rentabilidades por hectare. Mas sem competitividade, o produtor desanima, e isso ameaça a segurança alimentar e o emprego no campo”, alerta Denis Nunes, presidente da entidade.
O Rio Grande do Sul, responsável por mais de 70% da produção nacional, é o estado mais impactado. O excesso de oferta derrubou o valor pago ao produtor para níveis abaixo do custo de produção, gerando alerta entre entidades do setor.
A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do RS) recomenda redução de área plantada para a próxima safra e alerta para os riscos sociais e econômicos.
“O arroz é base de renda para milhares de famílias e tem uma das maiores rentabilidades por hectare. Mas sem competitividade, o produtor desanima, e isso ameaça a segurança alimentar e o emprego no campo”, alerta Denis Nunes, presidente da entidade.
Do campo à mesa: o futuro do arroz brasileiro
O grão que simboliza fartura e tradição no Brasil está, agora, no centro de um debate sobre comportamento, economia e cultura alimentar. A queda no consumo acende um sinal de alerta: se o arroz continuar perdendo espaço, os impactos vão muito além da cozinha — atingem diretamente o meio rural, a saúde pública e a identidade alimentar nacional.
“Estamos enxergando um iceberg a tempo de desviar dele”, resume um economista da Farsul, destacando que o desafio é equilibrar oferta, preço e cultura alimentar antes que o arroz deixe de ser, de vez, o símbolo do prato brasileiro.
“Estamos enxergando um iceberg a tempo de desviar dele”, resume um economista da Farsul, destacando que o desafio é equilibrar oferta, preço e cultura alimentar antes que o arroz deixe de ser, de vez, o símbolo do prato brasileiro.
Texto: Renee Rodrigues Fontana, com informações da GZH
Foto: Divulgação
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Economia
