O relógio, trazido da Alemanha em 1951, chegou à cidade como doação da prefeitura e foi instalado pelo relojeiro Schvertner, conforme registro feito no Livro Tombo da paróquia — diário histórico que guarda memórias desde a construção da igreja.
Datada em 27 de março de 1951, a instalação ficou assim registrada: “hoje veio o Sr. Schvertner para colocar o relógio da Catedral, que já havia chegado dia 27, doação da Prefeitura Municipal”. Dias depois, em 10 de abril de 1951, outro registro foi feito: “Começou a funcionar normalmente o relógio da Catedral, para a alegria geral da população”.
À época, a posse de relógios individuais não era comum para a população. Isso contribuiu para que as igrejas, geralmente situadas nas zonas centrais das cidades, instalassem o objeto como forma de demarcação do tempo humano — e de Deus —, como afirma o pároco, Padre Ari Antônio dos Reis.
— Nas igrejas, o relógio sempre serviu para orientar as pessoas, além de marcar o momento das celebrações e o ritmo da vida no entorno da praça. E é interessante pois contam que quando tocava o sino as pessoas buscavam conferir em seus relógios se a hora estava correta — conta o padre.
Com o passar do tempo, o badalar constante passou a perturbar parte dos moradores da região central, especialmente no período noturno. Por reivindicação da comunidade, a paróquia decidiu reduzir o funcionamento do sino para até as 22h. Com a alteração, o mecanismo ficou desregulado e dessincronizou. Por isso, o relógio foi desligado e hoje o sino é acionado manualmente por um botão.
Na época, a cada 15 minutos, meia hora e hora cheia, o martelo batia no bronze. Há cerca de um ano, no entanto, o sistema precisou ser desligado.
— O sino começou a tocar fora de hora, inclusive à meia-noite, e como estamos no centro da cidade tivemos que desligar o relógio. Hoje as badaladas funcionam manualmente — explica o padre.
O sistema, analógico e artesanal, ainda é o mesmo desde a instalação do objeto. No interior da torre, a máquina do relógio ocupa uma pequena sala repleta de peças metálicas e cabos de aço. Acima dela, o sino — conectado ao relógio — era acionado automaticamente pelas batidas do martelo.
O mecanismo é movido por engrenagens e pesos, como os antigos relógios de torre europeus. Considerado uma relíquia, o sistema exige um conhecimento quase desaparecido e difícil de ser encontrado.
— Hoje é muito difícil encontrar alguém que saiba consertar. O último relojeiro que fez a manutenção morava em Marques de Souza. Era um trabalho totalmente artesanal, feito por alguém que aprendeu sozinho, por curiosidade e necessidade. Esses profissionais estão desaparecendo — lamenta.
Hoje, o sistema está parado e desligado, à espera de manutenção.
— Há uma beleza muito grande no mecanismo, por conta do diálogo sonoro e visual da cidade, afinal o relógio é o que se vê e o sino é o que se escuta — diz.
O futuro do relógio
A restauração do objeto está nos planos da paróquia e deve ser feito junto à revitalização da fachada da Catedral, prevista para o próximo ano. O espaço já passou por uma recuperação dos vitrais e agora deve receber nova pintura e manutenção na estrutura externa.
— A Catedral é um cartão-postal de Passo Fundo. A sensação de ver o relógio parado é de que precisamos fazer alguma coisa, mas também precisamos ter paciência para fazer o melhor que há pra fazer — diz o padre.
Enquanto aguarda o restauro, o mesmo relógio que incitou alegria da população ao ser instalado, permanece imóvel, com os ponteiros fixos nas mesmas 12h38min em que parou de funcionar.
Fonte e foto: GZH
