O impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começa a aparecer com mais clareza no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul. No acumulado de agosto e setembro, período em que o tarifaço entrou em vigor, a indústria gaúcha fechou 6.141 vagas com carteira assinada, segundo dados do Novo Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O número é bem superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando o saldo foi negativo em apenas 280 postos. Desconsiderando o efeito sazonal da indústria do tabaco, a queda foi puxada principalmente pelos segmentos de couro e calçados, veículos automotores, madeira e máquinas e equipamentos.
Setores mais afetados
O ramo de couro e calçados perdeu 959 vagas no bimestre — 901 delas apenas na fabricação de calçados e partes. Segundo o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, além do tarifaço, a redução das exportações para a Argentina também pesou no desempenho. “Em setembro houve queda de 25% nas exportações de calçados para a Argentina e de 24% para o mercado norte-americano. Esses dois fatores refletiram diretamente na perda de postos de trabalho”, afirmou Ferreira.
Na indústria da madeira, foram 448 demissões no período, número próximo das projeções do Sindimadeira-RS, que estimava entre 500 e 600 vagas a menos. O presidente da entidade, Leonardo De Zorzi, avaliou que o setor mantém um “otimismo cauteloso”, comemorando o avanço diplomático entre Brasil e Estados Unidos, mas ainda sem resultados concretos.
Já os segmentos de veículos automotores, reboques e carrocerias, junto com o de máquinas e equipamentos, concentraram 848 vagas fechadas — especialmente na Serra Gaúcha, região de forte presença industrial.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Celestino Loro, afirma que, nesses casos, o impacto do tarifaço é secundário. “O problema maior vem de dentro: juros altos, descontrole das contas públicas e queda nas vendas. O aumento das tarifas só adiciona combustível a essa crise”, destacou.
Efeitos somados
A Fiergs também lembrou que, mesmo com retração, o efeito sobre o mercado de trabalho foi contido pelo alto custo das demissões e pela expectativa de melhora nas relações comerciais entre Brasil e EUA. Ainda assim, a Sondagem Industrial aponta que o índice de emprego segue abaixo de 50 pontos há quatro meses consecutivos — sinal de retração no setor.
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